Covidinos, a tecnologia que rende sorrisos em hospitais de Curitiba
A pandemia dificultou as visitas presenciais da ONG Nariz Solidário, que atua voluntariamente nos hospitais Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, Hospital Universitário Cajuru, Hospital do Idoso Zilda Arns e Hospital Infantil Waldemar Monastier de Campo Largo. Com a restrição de entradas nos estabelecimentos de saúde, o grupo buscou alternativas. Assim surgiu o projeto da telesperança. O coordenador da ONG, Eduardo Roosevelt, ressalta que a ideia foi agir na crise sanitária para “mitigar impactos negativos”, nos conta.
O Hospital Cajuru e a startup Human Robotics desenvolveram um robô com intuito de auxiliar os palhaços a retomar as visitas, permitindo a telechamada. O projeto foi adaptado para outros lugares. Surgiu assim a Covidina e o Covidino, dois manequins adaptados com um tablet na cabeça e rodas nos pés.
Luana Bastos é a psicóloga responsável por transportar o robô pela Santa Casa. “A ação unindo tecnologia e solidariedade é essencial no ambiente hospitalar, ainda mais em um momento de pandemia”, avalia, destacando que as táticas lúdicas auxiliam na redução do estresse e da ansiedade. Por meio do monitor, o palhaço conversa com o paciente. Para atuar no grupo, o voluntário passa por um treinamento de capacitação de um ano. É preciso essa preparação para lidar com doentes ora em estado leve, ora com casos gravíssimos.
“Respeitamos a individualidade, a particularidade e a autonomia do paciente em aceitar ou não a entrada do palhaço. Em um ambiente em que o paciente não pode escolher muita coisa, é importante trazer coisas que ele possa decidir”, conta Luana. Ela relata que, no início do projeto, houve resistência por parte dos profissionais e dos internados, mas hoje há uma aceitação maior. “Uma enfermeira me disse que o melhor dia da semana é o dia de palhaço”, comenta.
A psicóloga destaca ainda que os desafios são semanais, como problemas de conexão à internet. Ela também citou a necessidade de conciliação da rotina com os palhaços e as demais demandas do hospital. “Tem dias com muitas intercorrências, muito corridos, com muitos pacientes para atender, mas preciso tirar uma hora da minha manhã para os palhaços. Mesmo entendendo a necessidade e a importância, nem sempre é fácil. Às vezes, no meio de uma visita, me ligam dizendo que uma família precisa de acolhimento”, afirma. Na Santa Casa, a psicóloga usa a tecnologia também para a transmissão de músicas, de histórias e de áudios. “Quando os pacientes percebem que tem mais alguém por eles, a sensação de abandono reduz”, frisa.
A ONG atua desde 2014 e hoje conta com cerca de 70 voluntários, entre elenco e administrativo. Além do projeto telesperança, promove cursos de liderança para outros grupos de voluntários e de palhaçaria hospitalar, além de manter também uma agenda de lives em redes sociais. Está em fase de implantação uma iniciativa para que pacientes que sintam falta dos palhaços tenham uma forma de ter contato, por vídeo. Também há um projeto de terapia voltado ao voluntário, para cuidar de quem faz o bem.
Hoje já são mais de 40 mil pessoas impactadas pelo trabalho social feito pela ONG. Foram mais de 450 ações. A Nariz Solidário recebeu vários prêmios, como o Programa Impulso, em 2019. A Lei de Incentivo à Cultura permite que empresas e pessoas deduzam do Imposto de Renda os valores destinados a projetos culturais, uma oportunidade para empresas e pessoas físicas utilizarem parte de seus impostos para apoiar a instituição e contribuir para a promoção da saúde e da cultura.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 4,3% da população brasileira atuou como voluntário em 2019, dado que apresentou uma queda de 300 mil pessoas em relação ao ano anterior. Mas 2020, juntamente com a pandemia da Covid-19, trouxe uma mobilização solidária dos brasileiros. A empatia e a alegria foram mais necessárias, principalmente nos hospitais.
Para saber mais sobre o projeto:
Site: www.narizsolidario.org
Publicar comentário