Emerson Persona: arte como instrumento de reflexão

Emerson Persona, artista curitibano, teve uma infância feliz e em contato com a natureza. Depois trabalhou como modelo e professor de inglês. Mas foi um presente que deu a um amigo, uma pintura de sua autoria, que mudou a trajetória da sua vida. A pintura chamou a atenção do artista João Osório Brzezinski, que o incentivou para a Belas Artes.

Emerson se graduou em Pintura e se especializou em História da Arte Moderna e Contemporânea, ambas pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Com diversos prêmios e menções honrosas, o artista utiliza tinta acrílica para dar vida aos seus trabalhos, mesclando desenhos com pinturas e colagens, criando um processo antropofágico a partir da apropriação de si mesmo. Seu traço reaproveita recortes de trabalhos anteriores e ressignifica as relações entre eles. 

O artista pensa nas cores ultrapassando o que conhecemos como significado, para além da vibração cromática. Quando trabalha uma proposta, sempre relacionada com a vida e os fatos que o atingem, gera-se uma matéria bruta para construir uma imagem, Emerson dá liberdade para a pessoa significar o seu trabalho de forma mais plural, de acordo com as próprias vivências. 

Flores e plantas trazem um mundo que está sendo negado

Na pandemia, Emerson e seu sócio, o artista Francis Rodrigues, adquiriram muitas plantas que, além de decorar o ateliê no Edifício Galerias Tijucas, no centro da capital paranaense, servem de inspiração para o seu trabalho. As obras podem ser encontradas tanto nas redes sociais do artista, quanto na Galeria de Arte SOMA, que os representa.

Dos artistas que mais lhe “contaminam”, seja pela coragem e técnica, ou pela maneira como os objetos são pensados, estão Val Cruz, Hugo Mendes, Francis Rodrigues, pela qualidade técnica, Luciana Silveira, com aquarelas, e também os renomados Matisse e Picasso. “Temos que olhar as pessoas nos olhos, nem pra cima, nem pra baixo, as pessoas têm algo a oferecer”, afirma.

Com uma energia alegre e extrovertida, aprecia cozinhar e estar entre os amigos íntimos, gosta de assistir desenhos japoneses, citando Túmulo dos Vagalumes, em especial. Tem, em seu ateliê, uma parede cheia de objetos e artefatos afetivos, presentes que trazem boas energias ao local, onde gosta de estar e que lhe faz sentir pertencido. “Existe um sofrimento para formatar a imagem da melhor forma para que ela seja, à primeira vista, atraente e resolva as suas questões com relações simbólicas”, comenta. 

Todos os trabalhos que Emerson produz têm um significado íntimo, por estar sempre em um contexto de vida e existência, impedindo de classificar um mais importante que o outro. Em destaque está a pintura que faz parte do acervo do MON, que fez da Santa Curitibana, Maria Bueno, que é de origem de matriz africana. A obra nasceu em sua pesquisa de mestrado sobre o embranquecimento da população negra a partir do século 19.

Muitos desenhos no papel levam a um grau de destreza para a criação de obras com mais de três metros, tudo isso é levado em conta para que todos os trabalhos tenham peso, momentos vividos e valores retirados da própria existência. O que diz nas suas pinturas e trabalhos não fica explícito, não entrega o jogo tão fácil, revela o artista, a pessoa precisa ter um momento de intenção para se relacionar com o trabalho para entender.

Por Giordano Bueno

 

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