Alaska e a magia da última fronteira
Esta matéria é a mais difícil de ser escrita até agora. Faz dois meses que eu voltei do Alaska e ainda estou tentando digerir todas as emoções que a viagem me causou. Quando decidi ir pro Alaska, sabia que a viagem seria um marco de superação. Mas ainda não sabia que ia me encontrar naquelas estradas rodeadas de árvores brancas e montanhas, e que elas iam me fazer sentir a liberdade mais pura e forte que eu sentiria na vida.
Eu, que nem gosto de frio, jamais imaginava me encontrar lá. Nós fomos em fevereiro, inverno norte-americano, então precisamos nos preparar muito para essa viagem, comprando roupas específicas para aguentar vários graus abaixo de zero.
Alaska é o maior estado dos Estados Unidos. Começamos nossa viagem pela maior cidade do estado, Anchorage. Muitas pessoas visitam apenas a cidade de Fairbanks, o que eu não recomendo, pois foi ali nas estradas de Anchorage que esse estado começou a roubar meu coração. Anchorage também me surpreendeu com a vida que encontrei por lá. Várias pessoas me disseram que imaginavam Alaska como um lugar frio e no meio da nada, mas lá também tem vida, casas, escolas e famílias que moram lá. E que sorte a delas.
No primeiro dia, dirigimos até a geleira Byron, onde fizemos uma trilha no meio da neve para chegar até a caverna de gelo, mas depois de duas horas caminhando, não pudemos entrar na caverna pois uma avalanche cobriu a entrada dela. Onde mais eu viveria uma experiência assim?
No segundo dia, essa estrada da vista de tirar o ar nos levou ao porto de Seward, uma
cidade a duas horas de Anchorage, para fazer um passeio de barco pelo oceano congelante do Alaska. Por três horas e meia no mar, assistindo o oceano (surpreendentemente de um azul cristalino) no meio das montanhas cobertas de neve, me senti um ponto pequeno no meio daquela imensidão. Vi tanta vida selvagem… Águias, focas, lontras e até cabras da montanha escalando as montanhas ao redor do mar.
Descemos do barco, em uma pequena linda ilha de pedras, onde, no verão, os ursos costumam nadar e comer salmão. Me senti conectada com a natureza de uma forma muito grande. E as águas congelantes nos reservaram um presente pro final. Voltando para o porto, golfinhos começaram a seguir o nosso barco, pulando bem ali em frente aos nossos olhos, enquanto começava a nevar. E ali fiquei, por vários e longos minutos, sentindo a neve cair e assistindo aquela cena mágica, sem conseguir conter a água dos meus olhos.
No terceiro dia, em meio à neve, nos pegamos a estrada (traiçoeira e escorregadia) para Fairbanks, que fica a seis horas de Anchorage, e no caminho passamos pelo parque nacional Denali, e também encontramos um dos ônibus do filme Na Natureza Selvagem, que fica dentro de um bar que só abre no verão — então as pessoas passam por debaixo da cerca para tirar fotos com ele. Considere uma grande e arriscada aventura. Nos hospedamos numa cabana super charmosa e aconchegante no meio da floresta — literalmente —, com direito a alce andando no meio das árvores na manhã seguinte. Ali passamos quatro dias.
Dirigimos um snowmobile, uma espécie de moto para neve, em meio às árvores, alces e neve, em alta velocidade. Visitamos o Polo Norte, sim, a casa do Papai Noel. Polo Norte é uma pequena cidade no Alaska, com tema natalino, e ali eu senti gosto de infância. Visitei um museu de gelo no Resort Chena Hot Springs, la também nadei nas famosas águas termais enquanto a sensação fora da água era de -16 graus, e fiz um passeio de trenó, sendo puxada por cachorros na neve — o famoso dog sledding —, me sentindo em um filme de Natal.
E a Aurora Boreal? Ah, a aurora… foi na primeira noite em Fairbanks que fomos à caça da aurora boreal. Como tinha nevado o dia todo, o céu estava nublado e a probabilidade de vê-la era baixa, mas nós não desistimos. Por volta de meia-noite, deixamos a cabana em direção ao local e lá ficamos, no escuro, esperando por ela.
Perto de duas da manhã, ela apareceu, esverdeando o céu, como um presente por não termos desistido dela. Ficamos assistindo aquele espetáculo colorido por volta de uma hora. E ali eu ficaria por horas, sentindo que eu cheguei o mais longe que eu poderia chegar, sentindo que essa é a bagagem mais importante que um coração viajante carrega nele.
O Alaska me mostrou o sentimento de ser livre e ao mesmo tempo pertencer. Eu cheguei até a última fronteira. E parte de mim vai pra sempre estar lá. Obrigada por tanto, Alaska.
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